Donald Trump pode ser obtuso, simplório e preconceituoso. Mas não dá pra negar que seu marketing pessoal é poderoso. Poderoso a ponto de ele ser o candidato favorito para representar os republicanos nas eleições norte-americanas, que ocorrem em novembro, mesmo sendo rejeitado por grande parte dos habitantes deste planeta – e até por alguns caciques de seu próprio partido.
O virtual candidato para disputar contra Hillary Clinton o cargo de Presidente dos Estados Unidos tem inflamado o ódio de opositores com seus discursos xenófobos de ultradireita (e bota “ultra” nisso).
Mas, você pode se perguntar, como pode ele obter tanto apoio da população que elegeu por duas vezes consecutivas Barack Obama, do Partido Democrata, com uma agenda política tão polêmica?
Usando estratégias de marketing.
A verdade é que Trump se apoia, intencionalmente ou não, em vários conceitos importantes que constariam em um manual definitivo de boas práticas de marketing, e acabou desenvolvendo um branding pessoal de dar inveja em qualquer planejador de campanha eleitoral parrudo.
Dá uma olhada em cinco lições que o “topetudo” pode ensinar:
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Definir um posicionamento claro
Por mais perniciosa que seja a opinião de Trump acerca dos imigrantes que vivem nos Estados Unidos, o posicionamento dele sobre o assunto é claro: ele quer expulsar os estrangeiros que já residem no país e impedir a entradas de novos. O maior emblema desse posicionamento é a sua proposta de construir um muro gigantesco para isolar o México da terra do Tio Sam.
Ou seja, não há dúvida quanto às ações que Trump vai praticar se for eleito. Quem vota nele, sabe o que ele vai fazer e sabe qual é o diferencial dele frente à concorrência. Assim como deveria ser com qualquer produto ou serviço.
Se você não é claro quanto ao funcionamento de alguma coisa, as pessoas não vão perder tempo tentando descobrir.
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Focar no sucesso em longo prazo
Não foi ontem que Donald Trump começou a articular sua candidatura à presidência. Ele já vinha arquitetando uma entrada na seara política desde em 2000, quando pleiteou o cargo de presidente por meio do Partido Reformista (Reform Party). A empreitada não teve êxito.
Dá uma olhada neste episódio dos Simpsons, lançado há mais de 15 anos, “prevendo” uma eventual vitória do republicano nas eleições:
Construir uma marca valiosa e reconhecida pelo público, na maioria dos casos, é um trabalho de longo prazo, desenvolvido com o passar de anos, não de meses. Até existem casos nos quais uma marca consegue um crescimento meteórico com investimento maciço em publicidade, mas aquelas que ficam no inconsciente coletivo normalmente são nutridas com anos de relações públicas e storytelling.
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Criar um slogan que realmente resuma o seu diferencial
O slogan da campanha eleitoral de Trump é “To Make America Great Again” (“Tornar a América Grande Novamente”). Uma sentença que deixa clara sua opinião de que os imigrantes relegaram os Estados Unidos a uma posição menos prestigiosa do que já tiveram no passado, e que somente os “verdadeiros americanos” podem resgatá-la.
No final das contas, o slogan de Trump serve como um discurso de venda que conta, em poucas palavras e em poucos segundos, por que você deveria votar nele. É o famoso sales pitch, tão importante para convencer consumidores a comprar.
Observamos muitas marcas que adotam slogans artisticamente bonitos mas que não resumem em poucas palavras qual é o seu diferencial, a sua proposta de valor. E se você não consegue explicar isso de forma sucinta, é por que a marca, de fato, não tem diferencial algum.
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Apostar em relações públicas
O dono do topete mais esquisito do mundo sabe fazer RP para ampliar sua zona de influência e ganhar notoriedade.
Trump tem total consciência que suas declarações polêmicas reverberam e se tornam trending topics – tanto entre seus apoiadores quanto entre os que reprovam sua conduta. O candidato se pauta no jargão popular “Falem bem, falem mal, mas falem de mim”. Em um mundo cada vez mais conectado, essa estratégia tem funcionado bem e feito de Donald Trump o centro das atenções nas redes sociais.
Nascido em berço de ouro, filho do milionário Fred Trump, Donald investiu em negócios dos mais diversos segmentos (imóveis, cassinos, aviação, hotelaria, dentre outros) ao longo de sua vida. A maioria deles carregava seu sobrenome na marca – uma tática perigosa em marketing.
Mesmo assim, essa atitude serviu para tornar seu nome mais famoso.
Além de todas as suas empreitadas no mundo dos negócios, Trump foi durante anos produtor e âncora do programa “The Aprentice” (O Aprendiz) – que que teve uma versão brasileira ancorada por Roberto Justus – no qual ficou marcado por seu bordão “you are fired” (“você está demitido”).
Adotar um bordão é uma boa tática para se tornar reconhecível.
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Desenvolver uma identidade única de marca
Existe um conceito em branding que prega que uma marca deve ter uma identidade própria. Ela deve ser suficiente para o consumidor, dentro de sua cabeça, transformá-la em uma pessoa com características bem definidas.
Por exemplo: a Harley Davidson é um homem de 60-70 anos, tatuado, que usa bota, calça preta de couro, cabelo branco amarrado em rabo-de-cavalo e tem postura altiva.
“Ok, mas Donald Trump é uma pessoa. Como você vai transformar em pessoa alguém que já é uma?”. Nesse caso, você transforma a pessoa em uma caricatura.
Não uma caricatura que satirize necessariamente a aparência física da pessoa. Uma caricatura que simbolize seus valores, personalidade e gostos. De tal modo que fique óbvio para o público quem você é e por que você é diferente dos outros.
E criar uma caricatura de Trump é ainda mais fácil do que não ter vontade de votar nele.