As duas semanas olímpicas que o Brasil está vivendo têm sido uma grande festa. Os brasileiros estão empolgados e incentivam nossos atletas na busca por medalhas. Mas há algo que se destaca dentro dessa atmosfera dos Jogos Olímpicos: a força das mulheres. Em poucos dias de competição, tivemos alguns episódios que deram o protagonismo a elas e mostraram que a Olimpíada reflete o que se passa na sociedade. Um exemplo disso é o empoderamento feminino. Neste cenário, é importante refletirmos sobre a atuação das marcas em questões sensíveis que vão além do esporte. Elas devem se posicionar ou o melhor caminho é evitar polêmicas?

Neymar x Marta

Um dos casos mais emblemáticos da força das mulheres na Rio 2016 foi a comparação entre as equipes brasileiras de futebol. Enquanto as mulheres encantavam o público com belas exibições, os homens levaram três jogos para empolgar a torcida. O momento que chamou mais a atenção foi a foto do garoto que riscou o nome Neymar na sua camisa e substituiu por Marta. A imagem fez muito sucesso nas redes sociais, sobretudo depois de duas atuações decepcionantes do astro brasileiro.

O caso tem alguns elementos a serem considerados. O primeiro ponto é a paixão do brasileiro pelo futebol, que nos faz agir algumas vezes de forma irracional. Para o bem ou para o mal, tendemos a reações exageradas quando o assunto é bola e campo. Neste caso não foi diferente.

Outro ponto importante é a diferença de tratamento do brasileiro em relação às seleções masculina e feminina. Assistimos durante o ano inteiro aos jogos dos atletas que compõem a equipe masculina e somos bastante exigentes em relação ao seu desempenho por sabermos que são muito bem remunerados. Até aí nenhum problema, eles fazem por merecer o que recebem. A grande questão é que as atletas, em sua maioria, têm salários muito mais baixos e só recebem alguma atenção da mídia quando vivemos Jogos Olímpicos ou Copa do Mundo de Futebol Feminino.

O povo brasileiro logicamente quer que as duas seleções triunfem, mas na primeira fase apenas a equipe feminina foi “abraçada” por ele.

A gigante Rafaela Silva

O maior momento da primeira semana de Olimpíada sem dúvida foi o triunfo de Rafaela Silva no judô. A brasileira conquistou a primeira medalha de ouro para o país e, de quebra, superou o trauma dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, quando foi desclassificada após um golpe ilegal. Também naquela ocasião, a judoca sofreu ofensas racistas nas redes sociais. O episódio entristeceu profundamente Rafaela, mas a fez chegar fortalecida ao Rio de Janeiro. empoderamento feminino

A conquista da brasileira é muito simbólica por mostrar que o racismo e o desrespeito a pessoas de origem mais pobre podem impedir o surgimento de outras Rafaelas. Sua medalha de ouro fica marcada como uma grande conquista para o Brasil e deixa a esperança de que o país busque ser mais inclusivo.

Rafaela Silva foi motivo de orgulho também ao encampar uma campanha pelo empoderamento feminino junto ao COI (Comitê Olímpico Internacional), com o objetivo de incentivar mais meninas e mulheres a seguirem no esporte e não desistirem dos seus sonhos.

Um grito contra a homofobia

Outro episódio marcante dos primeiros dias de Jogos Olímpicos aconteceu com a seleção brasileira feminina de rúgbi. A jogadora Isadora recebeu um inesperado pedido de casamento da namorada Marjorie, que também trabalha com o rúgbi e estava presente na última partida do Brasil no torneio olímpico. A cena que correu o mundo foi belíssima e funcionou como um tapa na cara da homofobia, problema que infelizmente ainda é grave no Brasil.

O terceiro caso de empoderamento feminino destes Jogos Olímpicos encoraja as mulheres a serem livres independentemente de sua orientação sexual.

E as marcas com isso?

As três situações em que mulheres foram destaque na Olimpíada têm características próprias, não é correto fazer generalizações. Mas todos os casos são importantes por mostrar às pessoas que a figura da mulher está em foco e deve ser cada vez mais valorizada. Marcas de diferentes segmentos poderiam se manifestar em casos como esses, pois se trata de questões que transcendem o esporte.

É fácil encontrar exemplos de marcas que estão na torcida pelo Brasil e transmitem mensagens de incentivo. Isso sem dúvida tem bastante valor, mas é possível ir além e tocar em pontos importantes da nossa sociedade. Desde a equiparação da mulher ao homem, até causas fundamentais da sociedade brasileira como o combate ao racismo e à homofobia.

A coragem das marcas pode ser premiada com respeito e admiração das pessoas, mas fica a impressão de que muitas delas ainda evitam tocar em temas sensíveis por temerem uma reação negativa de parte do seu público.