Luca Venturini

 

No rol dos conceitos modernos do Marketing, o storytelling é mais um daqueles termos em inglês que representam uma ferramenta atraente. Não se trata, porém, de um pastiche, mas de um exemplo a ser seguido.

Storytelling é a arte de contar histórias a um público, sejam elas escritas, desenhas, cantadas ou filmadas.

O motivo pelo qual essa ferramenta vem sendo explorada pelas grandes marcas é a atenção que o ser humano instintivamente dá a histórias. Existe uma explicação biológica para o fato: o homem evoluiu em pequenas comunidades, cujos membros se reuniam à noite ao redor de fogueiras para que histórias fossem contadas.

Elas não eram somente cautionary tales – aqueles contos cujo propósito é ensinar lições às crianças – mas também serviam como forma de entretenimento numa época carente de qualquer dispositivo eletrônico ou de brinquedos sofisticados.

Naquela época o contador de histórias era alguém que possuía destaque dentro da comunidade, tamanha era a importância dada aos contos.

Portanto, assim como uma série de comportamentos manifestados pelo ser humano hoje em dia, a atenção especial dada a histórias é uma herança evolutiva do Homo sapiens, o que torna o poder do storytelling virtualmente inquestionável. Sim, o storytelling funciona mesmo.

Existe inclusive um estudo realizado pelo psicólogo americano Jerome Bruner que acusa que a mente humana é 20 vezes mais propensa a recordar uma ideia que está inserida em uma narrativa, do que uma ideia avulsa, fora de contexto. É por isso que as analogias são instrumentos utilizados com frequência por professores para explicar conceitos complexos aos alunos.

Um exemplo de storytelling orquestrado com maestria é a peça que a Dove fez em 2013 chamada “Real Beauty Sketches”, na qual um especialista em retratos-falados desenha duas versões do rosto de cada mulher que participa da campanha: um é feito a partir da descrição que a pessoa faz de si própria; o outro é baseado na descrição feita por um outro alguém que viu e conversou com essa pessoa mais cedo no mesmo dia.

A campanha gerou bastante buzz porque a diferença entre as duas versões do retrato de cada mulher era bem absurda. O rosto descrito pelas outras pessoas era muito mais bonito do que aquele que era descrito pelas próprias donas dos rostos. Obviamente a ideia era promover a marca Dove combatendo as inseguranças femininas, entretanto nenhum produto da empresa foi explicitamente anunciado, como em qualquer peça de storytelling de qualidade.

As práticas mais eficazes de Marketing são sempre aquelas que se valem da tendência natural que as pessoas têm de se engajar ou aceitá-las, porque elas mexem com aspectos irracionais.

 

Referências:

 

Livro “Inteligência em Concursos”, de Pierluigi Piazzi

http://www.brainstorm9.com.br/42442/braincast9/braincast-90-storytelling/